Palhaço Branco - Zé Diogo (DDiArte)
Tenho amadurecido.
Não sei bem o porquê de eu querer dizer isso agora, mas sinto que sinto isso.
Aos poucos, me descubro numa constante descoberta de mim, sobre as coisas que pareço querer, sobre as coisas que quero, sobre as que eu não quero. Meus rituais de passagem seguem passando, e deixando para trás – em mim – suas constantes teias carregadas de significados que me traduzem aos poucos, ora para que eu as entenda, ora para que eu multiplique as minhas crises.
Aos poucos vou entendendo os projetos de vida, as paixões, os amores, o amor, o desejo, os cafajestes, os olhares. Aos poucos vou entendendo aquela chuva de idéias tão gritante, tão alucinada. Aos poucos vou me preocupando menos, e me pré-ocupando mais, tudo a depender da maneira como “vejo o mundo a partir da moldura dos meus óculos, dos meus olhos”.
Aos poucos (e bruscamente como uma enxaqueca) vou parando para pensar nas crenças e contradições, parando para reagir às minhas reações, parando para me perguntar ou simplesmente silenciar e entender as coisas. Parando para não mais silenciar e afirmar sem medo de que tal coisa não é para mim, ou que não abrirei mão de tais coisas para tê-las (a elas mesmas, mas em outros casos, contextos, seres, re[L]ações).
Aos poucos vou acreditando que não quero me esconder nem deixar de mostrar meu lado Eros, meus desejos e minha pornografia comportada. Não quero largar de lado os meus afetos. Não quero viver no paraíso. Não quero viver na artificialidade dos nossos conceitos tão coletivamente individuais, tão fechados.
Aos poucos, e nunca lentamente, porque vivo em turbilhão, vou me destruindo, construindo e destruindo. Nada do que acreditei agora pode ser o mesmo em vinte minutos – pode já não ser ao fim das palavras que nunca terão fim.
Aos muitos, vou vivendo minhas parcelas de vida, minhas porções de alegria, minha construção de felicidade e de amor pelos meus.
Tenho amado.
Tenho amadurecido assim, dividindo a casa.
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