terça-feira, 9 de março de 2010

Complexidade # 17


Às vezes só escrevo em momentos depressivos, mas hoje me deu vontade de dizer que estou bem. Não sei bem por que, e apesar de todas as últimas confusões.

Aos poucos sinto as coisas fluírem com naturalidade, cada vez mais uso a palavra “processual”, e reconheço que muita coisa é assim, precisa ser... Aos poucos, internalizo isso de tal maneira que agora me bate alguma coisa parecida com conformismo, só que sem inércia – e bom. Sinto que é bom, sei que é. Ando reconhecendo os meus próprios processos, me vendo nos alheios, e entendendo que as coisas atingem equilíbrios muito mais facilmente do que eu imaginava.



Vou entendendo que a ainda gente se desespera sem motivo.
Ainda não suporta dar tempo ao que precisar de tempo.
A gente detesta esperar, e des-espera – talvez porque o que se entende por esperar seja de fato desesperador (nada necessário, isso é fato, mas desesperador). Vive-se na cultura do plural, o que é bom, mas sempre descartável, rápido, fútil, o que nem sempre é bom. Perde-se a paciência, muito facilmente. A gente enlouquece.

Se acho que estou bem agora, é porque tive que fazer muitos exercícios comigo mesmo, para ser extremamente e insuportavelmente paciente. Chorei, briguei, desabafei, fui injusto... quase não consegui. No fim, acabei descobrindo que era o melhor a fazer. Quero muito ser mais paciente agora. Mesmo nessa hora delicada, lidando com essa coisa delicada, de fases, escolhas, tanto tempo à frente, projetos de vida... mesmo nessa loucura incerta, sinto forte a vontade de viver a paciência mais arriscada, que pode não render em nada no fim da espera, mas que é agora tão desejada e mesmo tão cativante... sentir faz isso com a gente.

E eu sinto que saí um pouco desse mundo de tantos desesperados por respostas rápidas.

Sinto que entendi, bem como eu pensava antes, que dizer “te amo” tão rápido é quase sempre uma mentira.
Continuo sentindo que relógios não medem muito... continuo crendo nos tempos das intensidades, nos tempos que pedem por vida, que pedem por entrega sem pensar em segundos, dias, minutos, horas e durabilidades... Apenas reforço a vontade de não ficar parado, olhando esse mesmo tempo passar, esses mesmos processos acontecerem sem que eu evolua (ou involua, tanto faz, já não sei). Por outro lado, já não sei até que ponto o tempo é tão relativo.

De qualquer sorte... me sinto muito bem por estar meio fora desse alheio-caos (que, contraditoriamente, está sempre se ordenando tanto, classificando-se tanto, conceituando-se e fechando-se tanto, todos os dias).
Me sinto, e sinto um turbilhão de coisas...
Apesar de nada (pelo menos não muita coisa), estou simplesmente bem por estar bem na minha desordem.

Sem tantas certezas, apesar dos desejos muitos...
Com muitos desejos, apesar das certezas cada vez tão mais poucas...

Estou bem.

...

Um comentário:

  1. sem comentarios... é incrivel como tem tantas coisas q combinam com a gente, certos textos q se encaixam na vida (no momento) da gente.




    "Vou entendendo que a ainda gente se desespera sem motivo.
    Ainda não suporta dar tempo ao que precisar de tempo.
    A gente detesta esperar, e des-espera – talvez porque o que se entende por esperar seja de fato desesperador (nada necessário, isso é fato, mas desesperador). Vive-se na cultura do plural, o que é bom, mas sempre descartável, rápido, fútil, o que nem sempre é bom. Perde-se a paciência, muito facilmente. A gente enlouquece.
    Sinto que entendi, bem como eu pensava antes, que dizer “te amo” tão rápido é quase sempre uma mentira.
    Continuo sentindo que relógios não medem muito... continuo crendo nos tempos das intensidades, nos tempos que pedem por vida, que pedem por entrega sem pensar em segundos, dias, minutos, horas e durabilidades... Apenas reforço a vontade de não ficar parado, olhando esse mesmo tempo passar, esses mesmos processos acontecerem sem que eu evolua (ou involua, tanto faz, já não sei). Por outro lado, já não sei até que ponto o tempo é tão relativo.Me sinto, e sinto um turbilhão de coisas...
    Apesar de nada (pelo menos não muita coisa), estou simplesmente bem por estar bem na minha desordem.
    Sem tantas certezas, apesar dos desejos muitos...
    Com muitos desejos, apesar das certezas cada vez tão mais poucas...
    Estou bem."

    ResponderExcluir