terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

complexidade #45


Às vezes tenho a impressão de que você se arrepende muito de não ter ficado comigo enquanto houve tempo. Que tem um pouco de ressentimento pelo jeito como as coisas aconteceram. Que lamenta a tristeza que houve. Que agiria de outra maneira se estivéssemos juntos hoje.

Às vezes tenho a impressão de que você pensa que estaríamos juntos hoje se tivéssemos agido de outra maneira. Se tivéssemos agido de outra maneira, talvez as coisas hoje pareceriam um pouco menos sem sentido, um pouco menos fora de lugar. Talvez estivéssemos juntos e felizes. E fico me perguntando se concordo com isso que eu acho que você pensa. Não sei. Só sei que eu tenho a impressão de que você se arrepende de não ter ficado comigo enquanto houve tempo.

Teu olhar te denuncia, menino.

O jeito como me olha, o suor nas mãos, os beijos que me rouba, o abraço sempre forte, que parece querer resgatar a verdade daqueles corpos que se entrelaçaram uma primeira vez, sorrindo, clandestinos, num romance vivido diante da plateia que não nos enxergava... Tudo te denuncia.

Não quero pôr nas palavras nenhum ressentimento ou vontade de vingança, nenhum dedo apontado para as coisas que você perdeu, porque você não perdeu sozinho. Por mais que as marcas daquelas histórias confusas ainda estejam aqui, martelando de vez em quando, ainda consigo olhar para elas com olhos doces. De um jeito ou de outro, te entendo. Te sinto. Tanto que acabo entregando sempre de bom grado os beijos que você me rouba, os abraços já não tão cúmplices quanto aquele primeiro, mas que ainda guardam alguma nostalgia das coisas que não foram.

Acho tudo isso um pouco engraçado. Irônico.

Sigo guardando essas memórias, como faço sempre, com a consciência (que acho que você também tem) de que nosso tempo passou. Talvez teríamos sido perfeitos um para o outro e só não aparecemos no melhor dos momentos. De todo modo, acho que fomos o melhor que pudemos no exato momento em que aparecemos. A vida se encarregou do resto.

E parece clichê, mas acho que é assim mesmo que funciona. Tira o arrependimento dos olhos, menino. Deixa os dias se encaminharem sem que a gente se prenda demais no que ficou onde tinha que ficar. Já houve tristeza demais nessas idas e vindas da vida da gente... e eu sempre gostei de te ver sorrindo.

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