sábado, 10 de março de 2012

Complexidade # 36


De repente eu tive vontade de escrever uma história de amor.

Não que tenha sido uma vontade de verdade: não quis mesmo pegar o papel e escrever, ou não consegui, talvez por falta de um enredo que fosse válido o suficiente para agora, ou talvez porque os enredos válidos que tenho aqui guardados comigo, eu os quisesse deixar para outra hora. Não escrevi, e talvez não escreva. Ou talvez eu escreva, mas isso tanto faz.


O que importa, o que me deixa em crise, o que mais martela na minha cabeça agora é que eu tive muita vontade de escrever uma história de amor. Quase uma necessidade, de tão forte, tão intensa.

Quis escrever uma daquelas histórias carregadas de amor. Carregadas de carinho, cuidado, aconchego, tão perfeita que fosse obviamente falsa... mas que despertasse em toda pessoa que lesse um desejo irracional e incontrolável de ter uma igual. Que eu mesmo fosse um desses, daqui a um tempo, voltando ao texto, a desejar aquela história de amor boa demais para ser de verdade. Uma história romântica em excesso, exageradamente piegas, mas daquelas que eu leio tempos depois, e fico orgulhoso de mim mesmo por ter escrito...

Queria escrever uma história que me permitisse misturar riso abobalhado e lágrima sentimental, essa mesma lágrima de agora... uma história que eu pudesse acompanhar ao som de uma música leve, essa mesma música de agora... uma história que me permitisse sumir, transcender para um quase completo estado de paz...

Uma história para onde eu pudesse me transportar, e lá ficar pelo tempo que fosse. Uma história que eu pudesse controlar: pausar a cena, observar os meus próprios personagens com todo cuidado, me perder neles pelo tempo que fosse preciso... olhar os seus olhares e sentir os seus cheiros, ouvir os seus sons, viajar em tudo o que fizessem e dissessem, como se nada daquilo tivesse saído da minha cabeça.

Uma história que tivesse saído da minha cabeça, e que por isso me permitisse escolher os personagens... decidir quem fica em quem some, quem faz alguma coisa e quem não faz nada...

Uma história que eu pudesse viver também.
Uma história obviamente falsa, mas de uma falsidade sincera que me alimentasse o sonho nem que fosse um pouquinho.

Uma história que não fosse minha, mas que fosse.
Uma história para onde eu pudesse fugir...
Mas uma história que eu talvez não escreva... por me dar cada vez mais conta de que não é mais tempo de fuga.

Uma história que eu provavelmente não escreverei porque preciso estar aqui, nas minhas tantas histórias obviamente verdadeiras, ainda que não tão perfeitas. Minhas histórias que às vezes me dão medo, que quase sempre dão insegurança... minhas histórias que, quando chegam ao final, às vezes me dão a sensação de que não me deixaram aprendizado nenhum, porque parece que, se outras histórias virem, serei nelas inevitavelmente o mesmo – cometendo os mesmos erros, sentindo as mesmas coisas, reclamando dos mesmos problemas e da minha irremediável incapacidade de lidar com eles.

Queria tanto escrever uma história de amor... e me dói tanto sentir a racionalidade exagerada dizendo que não posso escrevê-la!

Mas eu respiro fundo... e sei que a não ser que eu seja muito fraco agora, não a escreverei mesmo. Pra não sentir ainda mais dor qualquer dia, me dando conta de que, por mais bela e perfeita que ela seja, continuará lá, no papel... sendo só uma história.

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