quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Complexidade # 33



Estou com medo de que os meus últimos sofrimentos estejam me tornando um pouco insensível.
Com medo de estar me tornando frio, como se estivesse decepcionado com qualquer possibilidade de sentir.
Com medo de estar me tornando um tipo de pessoa que eu nunca quis ser.

Ultimamente tenho tido um pouco mais de tempo para pensar nessas dores todas, com um pouco mais de calma, principalmente por elas estarem passando... e é tudo uma anústia muito grande, porque, enquanto vou tomando real consciência das coisas, pareço ir sendo invadido pela sensação de que tudo se trata de uma grande vingança do Tempo, esse cruel senhor dos destinos.

Me parece, de modo muito forte, que estou passando agora pelos exatos sofrimentos que causei a algumas outras pessoas que cruzaram comigo em uma e outra parte do caminho. É no meio destas reflexões todas que vou me dando conta destes sofrimentos que causei, porque não sei se já havia parado pra pensar nisso em algum momento antes. De algum modo, a minha preocupação em cuidar foi sempre tão grande, que talvez eu nunca tenha me dado conta de que alguém nesta vida deve ter sofrido por minha causa - mesmo que não por minha culpa.

Vejo, por exemplo, os prováveis sofrimentos causados pela minha sinceridade, pelo meu excesso de cuidado, pelo respeito extremo com que lido com os meus sentimentos... por tudo isso, eu tratei pessoas queridas com todo carinho do mundo, com todo cuidado; por tudo isso, eu disse palavras bonitas, cultivei as pessoas, alimentei sorrisos, alimentei até mesmo sonhos, despertei nestas pessoas confiança e segurança para que me quisessem, tanto quanto eu as queria. Mas e quando meus sentimentos se foram (efêmeros como quase todas as coisas intensas)?

Para não mentir, para não dizer que amava sem sinceridade, simplesmente (talvez cruelmente, sem muito jeito) afastei a quem havia ganhado pra mim.

E hoje, como que numa ironia, aquele menino que me deu o próprio carinho, e que conquistou o meu; que cuidou de mim e que me fez querer cuidar; que me disse tanta coisa bonita, alimentando meus sonhos, meus sorrisos e meus desejos... aquele menino já não está mais por perto... seus sentimentos (talvez intensos, certamente efêmeros) se foram... se é que existiram, se é que não foram apenas um encantamento entendido como algo mais - porque a gente sempre se engana com coisas assim...

Vejo também as pessoas que não cultivei. Pessoas que eram lindas, adoráveis, que estiveram sempre tão dispostas a me acolher, a se dedicar a mim, gratuitamente... pessoas que eu sabia que não poderia perder, mas pessoas que eu não queria - pelo menos não como elas queriam a mim. Por isso eu as recusava. Na mais gentil das maneiras, com o mais racional dos motivos para explicar porque nada daquilo daria certo. Motivos arranjados não se sabe onde, porque no fundo era tudo medo. Mas motivos claros, verossímeis, contados para que eu pudesse convencer com propriedade - principalmente a mim mesmo. Até que aparecesse alguém que eu quisesse de fato, e que me fizesse esquecer todas as justificativas, racionais ou não, que me fizesse agir por impulso e me jogar completamente sem preocupações...

E para não ter que encarar a minha mentira desmascarada, afastei novamente a quem havia ganhado pra mim.

Hoje paro e penso no quanto me dediquei àquele menino, no quanto o quis. Paro e penso no quanto fui adorável, disposto, cuidadoso, entregue (sem nem poder muito, mas isso não era o que me preocupava...). Paro e penso no dia em que escutei todas as suas razões para não me querer, pelo menos não do mesmo jeito que eu o queria...

Paro e penso... e fico espantado ao vê-lo hoje envolvido com alguém, vivendo as coisas que eu quis viver na sua companhia, esquecendo qualquer motivo daqueles dados a mim... é estranho. E dói.

Uma dor que vai passar, cedo ou tarde, eu espero. Nem é essa a dor mais importante.
Não é o que me preocupa mais.

A dor que fica, a que dói de verdade é a do risco de que tudo isso esteja me tornando um pouco insensível.

Risco de que os "aprendizados" todos que surgem dessa história me tornem o tipo de pessoa que eu nunca quis ser. O risco de que de repente eu me veja fazendo todos os questionamentos que eu nunca quis fazer: será então que para não me ferir nem gerar sofrimentos eu devo simplesmente parar de demonstrar carinho? Devo parar de cultivar, de gerar cuidado? Devo parar de alimentar sorrisos? Devo evitar a sinceridade? Devo esquecer as trilhas sonoras que sempre encontro para embalar momentos bonitos? Devo não mais dizer que gosto? Devo não mais dizer o quanto gosto? Devo deixar de querer que alguém me queira?

Devo? É uma pergunta angustiada.
Não quero ser assim.
Não quero ser sem esperança.

Não quero ser uma pessoa que não consegue ser clichê e piegas nas horas desnecessárias, que não consegue rir, desejar, nem acreditar que o perfume é que tem perfume no perfume da flor...

O que quero é ser alguém que, mesmo que não tenha motivos para nada disso, consiga ter ao menos um pouco disso.

Quero poder me dar direito a acreditar em amores - mesmo que imperfeitos... só não sei se estou forte o suficiente para isso agora. Acho que preciso urgentemente de saídas, antes que eu me perca em todas estas confusões.

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