sexta-feira, 8 de abril de 2011

Complexidade # 29




Há tempos preciso escrever.
Milhões de coisas têm invadido a cabeça, em surtos e crises poéticas repentinas, mas quando, enfim, resolvo pegar papel e caneta, a ideia já foi (não como se fosse completamente autônoma, em forma de inspiração, e fugisse, mas como algo que acaba irrelevante e sem espaço na minha cabeça super disputada por milhões de ocupações e coisas para pensar, coisas certamente mais importantes do que qualquer devaneio em papel de caderno).

Não tenho tido tempo.



Na verdade, talvez eu até tenha tido tempo sim, só ainda não consegui organizar bem tudo, desembaralhar, pensar em uma coisa de cada vez, encaixar tudo no devido lugar... todo o meu desabafo, toda a preocupação começa exatamente aí. Não sei se consegui ainda entrar no ritmo em que deveria. Nem sei se achei esse ritmo. Isso tem milhões de consequências difíceis, virando uma bola de neve sem mais tamanho.

Chego numa hora da vida em que não é possível acreditar em nenhuma dessas filosofias corriqueiras sobre o tempo... Por um lado, a ideia de aproveitar o agora, que às vezes parece tão sedutora, não me basta, porque estou cheio de coisas futuras com que me preocupar. Me recuso - ortodoxamente - a acreditar que esse futuro não me pertence, que devo deixar as coisas acontecerem para ver onde elas vão dar. Por outro lado, me vejo envolvido num turbilhão de coisas urgentes, pra serem resolvidas no calor, no agora, no urgente, na corrida, de forma que passado e futuro se confundem numa agitação muito angustiante. Me dá tontura, insegurança, vertigem (sabe aquela sensação que dá quando a vista escurece e a gente perde um pouco do equilíbrio?)...

É tudo muito novo.
Parece que dessa vez estou mesmo ficando adulto, de verdade - e não como eu pensei que estava naquelas outras vezes em que eu devia estar apenas amadurecendo... É tudo muito novo, novo como todas essas coisas novas que assustam...

Minha cabeça funcionando me condiciona a fugir ou travar. Fugir é impossível, porque é fugir do tempo, fugir do futuro que está cada vez mais presente e que inevitavelmente chegará. Me resta travar, parar no meio do tudo e ficar constantemente me perguntando o que fazer, e apenas isso, sem conseguir um esforço sistemático que me leve a alguma mínima resposta. Pensando demais em como resolver tudo, simplesmente acabo não conseguindo fazer nada. Também não consigo parar de me preocupar: refletir, analisar e calcular às vezes parece fundamental para conseguir fazer alguma coisa sensata. Parece que é tudo muito delicado para eu sair arriscando, apostando as fichas sem ter certeza do que virá depois. Mesmo que do depois eu não saiba, nunca.

Não consigo não levar as minhas crises ao extremo, mesmo que eu saiba o quanto isso me faz mal.

Crise do futuro chegou me cobrando coisas no presente, coisas que tenho que fazer agora, no meio da crise do presente que também está aí... Para deixar em termos menos poéticos e mais claros (mesmo pra mim): mestrado, emprego, línguas, cidade, casa, rotina, despedidas misturam-se com monografia, aulas, textos, trabalhos, prazos, namoro, quereres, formação, currículo, experiências, pessoas, comportamentos, amadurecimentos... Definitivamente, não sei se consegui ainda entrar no ritmo em que deveria. E estou preocupado.

Chegarei onde preciso se eu não entrar num ritmo?
E eu não deveria estar procurando um ritmo em vez de apenas procurar saber se estou em algum?

Quais atitudes devo tomar? O que preciso assumir pra mim, sobre mim, para mudar?
É preciso mudar? Há alguma coisa pra assumir?

Já é hora de assumir? E de sumir?
Se for, sumir será uma decisão?
Ou simplesmente uma consequência involuntária e inevitável disso tudo?

Uma coisa, outra, ou nem uma coisa nem outra?
Sim, eu sei que são muitas perguntas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário