quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Complexidade # 28


Sinto em meu coração um incômodo, não sei o quê.
Não sei de que se trata.

Na verdade, nem sei se se trata de alguma coisa. Essa foi só a primeira coisa que quis dizer, foi só me veio à cabeça quando decidi começar este texto.



Há tempos não escrevo nada - e às vezes me bate o medo de sentir esgotar a essência poética que é tão necessária para sustentar essa coisa que eu acho que eu sou, essa imagem de mim que criei para mim mesmo, com os valores que eu mesmo acho positivos, que me fazem positivo e bom aos meus próprios olhos – que aos outros por vezes pode parecer teatro e fingimento, eu acho. Mal sabem os outros que eu também me sinto platéia, às vezes.

Preciso me ver como se estivesse de fora, preciso me entender. E se por enquanto não quero mudar nem o texto nem a cena, talvez signifique que eu ainda me divirto - ao menos me sinto confortável - com o que vejo/faço.

Ok, acabo de quebrar na própria consciência uma dicotomia: não há tantas dualidades entre ator e plateia, especialmente nesta peça sem ensaio que é a vida.

Muita coisa tem acontecido nos últimos dias. Não sei ainda se tive tempo de processar as informações todas, entender todas as coisas que tem acontecido ao redor e comigo, para procurar entender como eu estou diante de tudo isso. Hoje me veio quase que repentinamente uma tremenda consciência de tédio, e sinto que preciso me apegar a algum projeto, alguma coisa que me consuma. Hoje acordei me perguntando sobre o nível de cuidado que ando demonstrando, me preocupei com aquele numerozinho que revela a imagem que mostro às outras pessoas – e não necessariamente você vai entender isso, leitor. Deve ter me batido essa angústia pela repentina vontade de cantar que quero sair só. No fim das contas, seria só uma música melancólica daquele disco que não paro de escutar. Músicas me afetam demais, não quero sair só coisa nenhuma.

(Me ocorre dizer que semana passada eu queria dormir nú. Só o meu quarto que não tem tranca – é, caríssimo... a liberdade pode ser constrangedora.)

Enfim, como sempre, devem ter me batido essas angústias pela conhecida mania que tenho de raciocinar demais as minhas atitudes, vontades. Tudo culpa da minha necessidade de controlar cada passo que dou, mesmo sabendo que é impossível - coisa que todo mundo me diz, e que eu mesmo já concluí: não há tantas dicotomias entre ator e plateia, acho que acredito nisso agora, mas ainda devo reconhecer que luzes ofuscam. Não é possível perceber tanta coisa assim quando é você quem atua. Não adianta querer enxergar do mesmo jeito, analisar do mesmo jeito, entender do mesmo jeito. Da mesma forma que ninguém nunca saberá perfeitamente o que sinto eu, de cá, sob as luzes, me esforçando para não desmerecer o papel... e me pergunto: me esforçando para agradar o público? Mas o que é o público, se o ator e ele já não se diferenciam tanto? Essa tal metáfora de teatro está indo longe. De fato, “não se brinca com metáforas...”

Voltando ao rumo da conversa, sinto que preciso de um norte (ou um sul, que seja), para aprender o que fazer quando a mania de controlar me ataca, me atormenta. Preciso aprender a controlar meus impulsos, e não me preocupar tanto. Preciso entender que não é assim porque é assim, entender que não é imutável, que não é "instintivo", e que posso agir diferente na hora em que eu quiser, na hora em que eu quiser pisar no meu chão com (in)certezas, e plenamente certo das (in)consequências.

Preciso de um norte (ou um sul, que seja).
Luz na plateia: alguém aí teria uma bússola?

...

Um comentário:

  1. complexo e sempre! rsrs esse realmente é vc Muh.
    Mas ser controlador dos seus proprios passos nem sempre é sinal d segurança ou certeza de nada!
    De que vai adiantar bussola, se ela te indica o Norte e vc procura o Sul?
    Você so pode ta certo d uma coisa na tua vida... nada é certo!

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