Complexidade # 16

Há um lado bom em saber que outras pessoas moraram nas suas antigas bagunças, hoje a minha bagunça – meu quarto. Salve a Fritações (agora numa versão sem plaquinha pintada em madrugada fritante)! Mas não é sobre isso que preciso falar.

É sobre uma herança. Presente deixado a lápis num dos lados do meu guarda-roupa, por um desses antigos moradores, já não sei quem...

“STOP! O Mundo parou? Ou meu umbigo está sujo?”




Já parei ali por incontáveis vezes, antes de tomar banho, passando por perto, e tive as mais diversas reações, rindo, divagando, desprezando, valorizando... Muitas vezes parei pra pensar na frase quase imperceptível... Mas talvez, em nenhuma ocasião ela tenha feito tanto sentido quanto hoje, quanto agora, hora em que continuo na minha cama, sem nem acordar direito – cabelos desgrenhados –, já sentado em frente ao computador... Deus salve as novas tecnologias!

Desde ontem estou assim, nostálgico.
Desde ontem estou sentido que preciso variar um pouco, sair do quarto, penso demais quando estou aqui. Minhas preocupações se elevam, multiplicam, crescem, grandes megazords diante de um ranger azul que insiste em apenas ouvir música depressiva – o dia está chuvoso.

Desde ontem preciso sair.
Saí ontem, voltei bem, mas não me deliciei com a chuva. Por que ainda se insiste em ser poético?

Preciso sair de novo.
Preciso sair de mim, o mundo parou, meu umbigo está sujo, e a praga do egocentrismo volta a falar relativamente angustiantemente alto. Incomoda. Leitura que eu não deveria fazer. Procuras que eu não deveria fazer. Ainda sinto culpa? Ainda me angustio?

Não, culpa não.
Angústia, talvez.

Na verdade, rezar um salmo ainda não me basta (mesmo que eu nunca tenha tentado o exercício – fato).
Rezar um salmo talvez não me baste.

O que bastaria?
Chego à conclusão de que o problema da minha própria prepotência não sou eu.
Apenas não posso exigir dos outros que “se submetam”.

Posso me pôr num altar.
Não posso exigir que os outros me adorem.

Posso achar que tenho todas as razões.
Não posso precisar que as outras pessoas as aceitem...
E não era eu mesmo quem dizia que cada um constrói a própria verdade? Como posso não concluir as coisas que eu mesmo concluo?

Enfim, bastaria que eu visse em qualquer canto um quê de significado, um sinal qualquer que fosse... as pessoas ainda tem alguma importância, acabo de crer. Mas não posso exigir nada disso, e me resta o inconformismo depois da procura egocêntrica que, pelo menos neste caso, acho que não deixou de ter razão.

Me resta aprender, sempre, que as coisas não funcionam bem como a gente espera.
Me resta rezar um salmo... e esperar que o tal equilíbrio se faça.

Ainda que seja só na minha cabeça.

26/02/2010