Da série de contos Diários em terceira pessoa.
Uma tentativa de literatura. Por que nenhum deles é real. E nenhum deles é fictício.
As pernas tremiam como quase toda
vez. Ainda era capaz de sentir-se dentro do outro, enquanto latejavam as
últimas contrações quentes que o prazer proporcionava. A respiração ia se
ajustando aos pouquinhos, perpassadas por aqueles risos cúmplices que os dois
trocavam entre si, como sinal da compreensão mútua de que, mais uma vez, havia sido
muito bom.
- Quer que eu tire?
- Aham... é melhor.
Levantou-se aos poucos, soprando
entre os dentes o leve gemido que aquele momento de desconexão ainda
proporcionava. Arrancou cuidadosamente a camisinha, para não sujar mais nada,
amarrou a extremidade e jogou-a ao lixo. No cesto com roupas sujas, catou uma velha
camiseta branca, sem estampas, limpou um pouco do suor do rosto e sentou-se
no colchão, para limpar à sua companhia também.
Sob a meia luz do abajur, admirou
ainda por um momento a visão excitante do corpo magro, levemente definido, onde
as gotinhas brancas começavam a passear devagarinho, balançadas pelo sobe-desce
sutil da respiração.
- Me dá a camisa... tá
escorrendo.
Ele riu.
- Deixa que eu faço isso.
E esfregou com delicadeza cada
pedaço daquele abdômen que ele adorava explorar, até que estivesse tudo
limpo... Jogou a camiseta de volta ao cesto, e procurou ao redor a pequena
garrafa com água que havia deixado debaixo da cama. Tomou um gole. Ofereceu à sua
companhia, que parecia ter sede. E tinha.
Antes de entregar a garrafa,
porém, fez questão de derramar ao redor do umbigo pequeno algumas gotinhas
geladas... riu do arrepio que provocara, e bebeu com a língua quente a água que
se misturava ao sabor do corpo que, de certo modo, acabara de comer...
- Dormir?
- Melhor, né?
- Quer um pijama?
- Não, assim está bom.
Sorriu com a resposta, porque
gostava de quando dormiam nus. Esticou o braço, apagou a luz do abajur, e
deitou-se para aproveitar o que havia de melhor naquilo: o contato sutil,
quente, pele a pele. Enquanto abraçavam-se, percorria mentalmente toda a
extensão do seu corpo, a fim de sentir com intensidade cada ponto de toque, e
aproximar cada pedaço de pele que estivesse ao alcance. Seu peito inteiro
tocando as costas do outro, o abraço apertado de quem quer aquecer, os dedos e
as pernas entrelaçados como se desejassem amarrar-se e permanecer ali, juntos,
por tanto tempo quanto fosse possível...
- Boa noite, meu amor.
- Boa noite, meu bem.
E ficaram ali por um tempo breve
e silencioso, até que ele sentiu a respiração funda que sempre indicava que sua
companhia já pegara no sono...
Antes que ele mesmo conseguisse dormir
também, pensou que de algum jeito tudo aquilo já lhe parecia sonho. Como poucas
vezes antes, lhe vieram na cabeça milhões de parágrafos bonitos, aparentemente
inspirados, completos, todos de uma vez, que quis correr e pôr no papel para
descrever de um jeito doce tudo que aquele toque lhe despertava...
Mas como estava escuro e tarde...
deixou as palavras para lá, certo de que elas também o deixariam ali, sonolento,
e iriam embora antes que a manhã chegasse. Era triste, mas conformou-se. De
certo modo, sabia que as melhores poesias permaneceriam sem papel... encarnadas
apenas nestas horas únicas que não se deixam registrar...
Sei exatamente como se sentiu não poder escrever sobre as sensações que haviam tomado seus corpos naquele momento. Mas há tempo para tudo, até mesmo para a realidade além do papel, além do romance, além da ficção...
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