sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Complexidade # 43


Nada como alguma poesia triste para inaugurar um caderno e um lápis.
10/01/2013, 04:05hs (sou meio apegado a datas, ocasiões...).

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Tenho estado melancólico ultimamente.
E, de certo modo, ter uma espécie de consciência quase plena dessa melancolia tem me deixado melancólico ainda mais. Os sentimentos costumam ser melhores (ou menos piores) quando a gente só os sente, não os sabe, não os entende.



Tenho passado por um processo profundo de revisão da vida, um processo que começou meio de repente, sem querer, quase que no automático, e que tem durado dias sem levar a muitos lugares. Lembro que, da última vez que passei por isso, conseguia ver muito claramente o que havia sido bom, o que havia sido ruim, em quais intensidades... E, principalmente, conseguia fazer um balanço das coisas todas, pesar, sentir e ver que, no fim daquele “ciclo”, eu saía com algum resultado, alguma conclusão mais ou menos clara, mais segura... Mas dessa vez, não. Dessa vez as coisas estão sendo um pouco diferentes.

Pelo que me lembro, começou tudo com uma revisão triste de um monte de histórias recentes: primeiro, a sensação cada vez mais forte de que perdi um monte de pessoas próximas que eu gostaria de preservar, depois de ter entrado em um estágio novo da vida... Segundo, a sensação de que, das pessoas que se aproximaram nessa nova fase, poucas são para serem preservadas.

E terceiro, certamente o que tem sido mais forte nesse meu surto de desesperanças: meus tantos afetos não realizados – em um tempo bastante curto, inclusive. Venho acumulando uma série de histórias mal resolvidas e confusas com aqueles mesmos obstáculos de sempre, que por vezes parecem até se repetir...

Os poucos amores realizados nessas idas e vindas machucaram. Lembro que saí muito frágil de uma dessas histórias, cheio de receios aqui e ali, e exatamente aquele que me ajudou a sarar foi o próximo a deixar uma marca – ainda recente, marca ruim, que ainda insiste em doer um pouquinho ao menor sinal da cara dele estampada pelos cantos.

Depois disso, as poucas possibilidades de carinho surgiram fortes, mas sempre distantes (literalmente ou não), e por uma série de razões me vi obrigado a “recusá-las” aqui e ali, deixá-las de lado para não sofrer mais, nem machucar também, porque aos poucos – e a duras penas – vim descobrindo que amor é quase tudo, mas nem sempre basta... Diga-se de passagem, na maioria das vezes não basta. E as coisas não são tão simples quanto a gente deseja quando sonha com contos de fadas.

E como se não bastasse, como se cada uma dessas minhas recusas fosse fria, fácil, simples – como se fosse simples ver-se recusando carinho e companhia –, ainda tive quem me esfregasse na cara a minha “racionalidade exagerada”, minha suposta dificuldade de acolher um bom sentimento...

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Pausa para um desabafo: por mais vitimista que pareça, sinto como se tivessem duvidado da minha capacidade de sentir, me cobrando um sentimentalismo a mais, justo quando o meu sentimento fervia mais, justo quando eu estava ocupado o suficiente em sentir remoer aquela dorzinha chata que dá quando os sentimentos agitam sem a gente poder fazer nada com eles... entende?

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E no meio desse turbilhão de memórias e sensações tristes, não vou dizer que não tenham aparecido lembranças melhores... Coisas boas me brotaram na cabeça vez ou outra, como se o tempo desse uma colher leve de chá pra eu não surtar... lembranças de conquistas, sonhos novos surgidos, e principalmente de um amadurecimento que, mesmo que tenha crescido a partir das dificuldades, tem sido inegavelmente positivo.

O único problema com isso foi que, por mais que as coisas boas tenham visitado a memória, não consegui colocá-las direito na tal balança que uso pra analisar a vida.

Ainda não consegui entender muito bem o peso do que foi bom e do que foi ruim nestes últimos tempos que vão ficando pra trás. Não sei se é porque alguma coisa pesa mais, mas é que, por mais que eu seja otimista e tente sempre olhar o lado bom, não consigo ignorar essas feridas recentes doendo ainda, acumuladas uma por cima da outra. Não consigo deixar de sentir o gosto amargo que ainda tá aqui secando a garganta e tirando a fome de vez em quando...

Carente, profundamente carente, cada dia mais tentado a acreditar naquela ideia claramente imbecil e dramática de que nunca encontrarei um amor que tenha futuro... e, talvez, para me proteger dela, me apegando obcecadamente a cada chance de amor que apareça – ainda que apenas na minha cabeça, como uma fantasia cheia de “felizes para sempre”, mas que nem ao menos passam de duas ou três conversas simpáticas no bate-papo do Facebook.

Tenho me esforçado para sorrir. Feliz de ver claramente que ainda tenho alguns bons motivos, mas ainda sentindo uma dor-de-cotovelo recalcada e forte, por estar aprendendo a tocar a música mais bonita que já ouvi na vida, sem ter a menor ideia de para quem poderei cantá-la qualquer dia. Sem alguém para compartilhar o sono, fazer massagem ou esfregar carinhosamente as minhas costas no meu banho – este gesto que é, para mim, a maior demonstração de amor que alguém pode dar, para muito além de qualquer surpresa grandiosa ou mensagem bonita.

Consciente de algumas companhias possíveis, mas ainda sentindo pontinhas da solidão que tanto me assusta, por algo que mudou com elas e comigo.

E neste ponto das palavras, mais uma vez fico sem balanço, sem resultado, sem conclusão. Sem saber bem o que ficou desse passado recente que “acabou”, e com a cabeça meio fora de lugar para simplesmente andar e seguir. Tô estacionado num monte de planos que não fiz e de desejos que não tenho – ou que não sei direito quais são. E realmente preciso sair disso tudo.

Preciso destravar o que tá travando, entender melhor a pessoa que me tornei nestes últimos tempos que passaram sem que eu tomasse muita consciência... e, sobretudo, enfiar na minha cabeça que nem tudo faz sentido no momento que a gente quer – essa ideia genial que, por mais óbvia que pareça, só agora me ocorre...

2 comentários:

  1. SEMPRE COM PALAVRAS PROFUNDAS EM FESSOR.... Não sei se é bom ou ruim mais em muitas delas me vejo ali.....

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  2. "E neste ponto das palavras, mais uma vez fico sem balanço, sem resultado, sem conclusão." Curta frase que adorei, assim como o texto inteiro, muito bem escrito! :)

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