Da minha janela dá pra ver um monte de passarinhos voando, e eu estou aqui invejando a liberdade deles. Talvez seja a coisa mais clichê que se possa sentir e escrever, a sensação mais repetida de todas as poesias já feitas no mundo, mas é um clichê daqueles carregados de sensatez...
E de todo modo, talvez em algum ponto a inveja que tenho agora seja um pouco diferente. Tenho sim, profunda inveja da liberdade dos passarinhos que voam lá fora agora, mas não me passa pela cabeça a pretensão de voar... Sem dúvida, seria bom poder sentir o vento no rosto e ir alto, olhar o nascer e o pôr do sol por cima das nuvens. Mas não é exatamente isso de que tenho inveja. Invejo mesmo a sensação de liberdade... não necessariamente a sensação do voo.
Invejo a possibilidade de se transportar para qualquer canto quando se quiser. Poder partir e se isolar em lugares tranquilos a qualquer hora, pousar em cima de árvores e ficar olhando tranquilamente as coisas passarem como se a vida não passasse junto, e, durante o tempo que fosse possível, não ter outra coisa mais a fazer do que pensar. Talvez nem isso... só comer despreocupadamente as sementinhas de um fruto maduro e deixar as coisas irem, sem se preocupar.
Invejo essa leveza...
A possibilidade de se sentir sem nenhum peso.
A sensação de não ter que carregar nada, de dar conta de elevar o próprio corpo até onde se quiser, sem muitos obstáculos. E depois de cada viagem, caso haja cansaço, que ao menos seja um cansaço recompensado...
Às vezes invejo também a certeza da companhia dos pássaros amigos, sempre que os voos em bando forem necessários... aqueles voos planejados, sagazes, organizados de um jeito que não permita que o vento machuque ninguém. Aqueles voos mais fáceis de fazer do que as jornadas que se encara sozinho. Voos em que algum passarinho sempre toma a frente do trajeto quando vê que o outro está cansado de enfrentar algum vento mais difícil.
E com mais angústia, com mais lágrima, com um quê de dor, o que mais invejo naqueles passarinhos lá de fora, nessa hora, é a certeza de que uma doce companhia, um dia, irá se dispor a estar junto para construir um ninho – e é uma pena que poesias banais tenham extirpado a beleza de mais esse clichê.
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