Da série de contos Diários em terceira pessoa.
Uma tentativa de literatura. Por que nenhum deles é real. E nenhum deles é fictício.
Para ouvir enquanto lê: A desenhista (Ana Larousse)
Chegava outra vez a uma daquelas fases da vida em que não conseguia não ficar pensando em tudo. Não que ele já não se cansasse de pensar o tempo inteiro... mas é que, naquelas fases, a coisa aumentava o ritmo, fervendo na cabeça, sacudindo no peito, tudo misturado.
Estava ali de novo: numa daquelas fases, aquele tempo sempre esquisito em que não conseguia não ficar pensando em tudo. Pelo menos dessa vez tentava ter a garantia de que não estava recitando novamente um soneto camoniano cheio de contradições; de que não estava outra vez exagerando no perfume de propósito; de que não estava num daqueles períodos de amor exigente... tentando ter a garantia de que não estava repetindo os tropeços, de que tinha processado atentamente os aprendizados de antes, pra que a vida não sentisse a necessidade de repetir uma lição dolorosa.